Saí de casa às cinco horas da manhã com o dia claro e encontrei quatro mulheres humildes que, com toda certeza, estavam a caminho do trabalho. Conversavam em voz alta e falavam ao mesmo tempo, disputando a algazarra com os cânticos dos pássaros da primavera.
A alegria e a emoção que elas me despertaram só encontro em bando de crianças no recreio da escola. Diminuo a minha marcha para saborear melhor aquilo que ouvia. O esforço que fiz para não esquecer o assunto da conversa até chegar em casa e passar para o computador foi enorme.
Pareciam mulheres que já haviam ultrapassado o meio dia da vida. Carregavam em seus rostos traços de sofrimento, desilusão e de muita luta pelo dia-a-dia, envolto, porém em uma aura de felicidade natural. O que conversavam era de uma beleza ímpar. Sem nenhuma ordem vou tentar reproduzir este raro momento de encantamento para mim, que foi o de encontrar pessoas alegres:
“Amanhã começa o tal horário de verão.” “Eu não gosto.” “Passarinho não canta no escuro.” “às vezes choram à noite.” “Lá em casa acordo sempre com a algazarra dos sanhaços na goiabeira.” “E a anarquia que fazem comigo é no pé da acerola.” “Saindo de casa no escuro não ouviremos mais os passarinhos.”“ E o pior é o medo de ser assaltada no escuro.” “Se pelo menos o assaltante não fosse ladrão até que valia a pena.”
Foram às gargalhadas.
Atrás do grupo me continha, em passos curtos, para aferir tanta poesia em gente aparentemente tão sofrida. Elas dobram à esquerda. Eu continuo, pensando no vazio que é o nosso mundo. Amanhã, com o novo horário, estarei comemorando o Dia de São Lucas, o padroeiro dos médicos. Haverá um culto ecumênico, depois chá com bolo e uma procissão até a Praça Alencastro ao lado da Matriz. Irei participar e agradecer ao São Lucas pela profissão que escolhi.
Depois, ao lado da Matriz onde está o padroeiro de Cuiabá, o Nosso Senhor Bom Jesus, pedirei pela saúde pública de Cuiabá: rogarei clemência para a crueldade e o descaso dos poderosos; perseverança na luta para que nós médicos possamos suportar e modificar este momento; paciência e confiança ao povo sofrido, por melhores dias.
Senhor Bom Jesus de Cuiabá a sua gente está sofrendo! A soberba, a prepotência, o orgulho e, principalmente a politicagem estão destruindo a profissão de São Lucas. E os necessitados e pobres são os grandes perdedores.
Iluminai Bom Jesus a todos nós – população, médicos e governantes – para a solução do problema da saúde pública!
Este ano não irei à festa de São Lucas porque não é possível festejar o dia dos médicos sem pensar nos pacientes. Pacientes sem atendimento médico e médico sofrendo. Não tenho nada a comemorar. Não é impossível para o padroeiro de Cuiabá nos dar de presente neste dia – PAZ.
Que venha com urgência a solução para resolver este desgastante e desumano impasse.
Abraços de paz.
Gabriel Novis Neves
17-10-09
A alegria e a emoção que elas me despertaram só encontro em bando de crianças no recreio da escola. Diminuo a minha marcha para saborear melhor aquilo que ouvia. O esforço que fiz para não esquecer o assunto da conversa até chegar em casa e passar para o computador foi enorme.
Pareciam mulheres que já haviam ultrapassado o meio dia da vida. Carregavam em seus rostos traços de sofrimento, desilusão e de muita luta pelo dia-a-dia, envolto, porém em uma aura de felicidade natural. O que conversavam era de uma beleza ímpar. Sem nenhuma ordem vou tentar reproduzir este raro momento de encantamento para mim, que foi o de encontrar pessoas alegres:
“Amanhã começa o tal horário de verão.” “Eu não gosto.” “Passarinho não canta no escuro.” “às vezes choram à noite.” “Lá em casa acordo sempre com a algazarra dos sanhaços na goiabeira.” “E a anarquia que fazem comigo é no pé da acerola.” “Saindo de casa no escuro não ouviremos mais os passarinhos.”“ E o pior é o medo de ser assaltada no escuro.” “Se pelo menos o assaltante não fosse ladrão até que valia a pena.”
Foram às gargalhadas.
Atrás do grupo me continha, em passos curtos, para aferir tanta poesia em gente aparentemente tão sofrida. Elas dobram à esquerda. Eu continuo, pensando no vazio que é o nosso mundo. Amanhã, com o novo horário, estarei comemorando o Dia de São Lucas, o padroeiro dos médicos. Haverá um culto ecumênico, depois chá com bolo e uma procissão até a Praça Alencastro ao lado da Matriz. Irei participar e agradecer ao São Lucas pela profissão que escolhi.
Depois, ao lado da Matriz onde está o padroeiro de Cuiabá, o Nosso Senhor Bom Jesus, pedirei pela saúde pública de Cuiabá: rogarei clemência para a crueldade e o descaso dos poderosos; perseverança na luta para que nós médicos possamos suportar e modificar este momento; paciência e confiança ao povo sofrido, por melhores dias.
Senhor Bom Jesus de Cuiabá a sua gente está sofrendo! A soberba, a prepotência, o orgulho e, principalmente a politicagem estão destruindo a profissão de São Lucas. E os necessitados e pobres são os grandes perdedores.
Iluminai Bom Jesus a todos nós – população, médicos e governantes – para a solução do problema da saúde pública!
Este ano não irei à festa de São Lucas porque não é possível festejar o dia dos médicos sem pensar nos pacientes. Pacientes sem atendimento médico e médico sofrendo. Não tenho nada a comemorar. Não é impossível para o padroeiro de Cuiabá nos dar de presente neste dia – PAZ.
Que venha com urgência a solução para resolver este desgastante e desumano impasse.
Abraços de paz.
Gabriel Novis Neves
17-10-09
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