sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Carteira de identidade

Quem não possuir a sua carteira de identidade, hoje chamada de RG (Registro Geral), não é gente. Quem introduziu no Brasil este tipo de identificação datiloscópica, foi José Félix Alves Pacheco na primeira metade do século XX. O Congresso agora quer transformar o RG, CPF e não sei mais o quê, em uma carteira única (CU). Confesso que nunca dei sorte com a minha identificação. Criado que fui no mundo da desinformação, bastava uma conversa olhos nos olhos, um aperto de mão e, como garantia um fio de bigode para selar um grande compromisso. Esse era o RG dos meus avós e pais.

Dois dias antes de partir para o Rio de Janeiro em 1953, encontro um colega, mais informado do que eu, que me pergunta se estava tudo certo para a viagem. Respondi-lhe que sim, inclusive a minha mãe iria preparar um pacote de pastéis feitos de madrugada para a viagem de 12 horas num velho avião DC-3. Ele insiste: “tens a carteira de identidade?” “Não”, foi a minha resposta. “Então tu não irás viajar seu matuto,” disse meu colega.
Horas depois, estava diante de um lambe-lambe na Praça da República aguardando as minhas fotos. Depois procurei o Chefe da Polícia e implorei que resolvesse o meu caso que era de urgência. No dia seguinte, entregou-me uma espécie de caderneta. Abri, verifiquei o meu nome e guardei.
Findo o primeiro mês de Rio vou à agência do Banco do Brasil retirar a minha pequena mesada. Percebi que a minha situação estava enrolada. Após várias conferências o gerente vem ao balcão e me diz que a ordem de pagamento tinha chegado, mas a minha carteira de identidade não coincidia comigo. Como? Indaguei desesperado. Aqui o senhor tem a cútis parda e usa bigodes (buço), e eu estou diante de um brancão sem bigodes. Coisas do lambe-lambe!

Em 1976 houve em Mato Grosso uma reforma na identificação. Sai o livrinho e entra uma cédula simplificada e plastificada. Como na ocasião era reitor, portanto autoridade, o número do meu novo RG era 36. Aí a encrenca foi com a Polícia Federal nos aeroportos. Era sempre convidado a explicar ao Delegado que não entendia como eu tinha o número 36 no RG sendo tão moço.

Aguardo como uma maldição a novidade, pois realmente não tenho sorte com a minha identificação, e tenho receios do número da minha nova carteira única (CU).

Cuiabá, 20/09/2009
Gabriel Novis Neves

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