Às vezes a chuva não vem para salvar do calor, apenas para lembrar que ainda existe.
A maioria das funcionárias da minha casa mora em Várzea Grande, cidade do outro lado do rio Cuiabá.
Quando chove lá, elas telefonam perguntando se está chovendo aqui, e vice-versa.
Parece que chove mais lá do que aqui.
Da janela do meu escritório, no vigésimo andar, vejo a chuva cair em Várzea Grande enquanto, deste lado, o tempo apenas se mantém nublado.
Talvez à noite apareça uma garoa com ventania, nada que melhore o calorão que nos castiga.
Quando criança chovia mais.
Tínhamos as quatro estações do ano.
Conversando com uma amiga de idade sobre o calor permanente que vivemos hoje, com apenas algumas pancadas de chuva, ela lembrou que antigamente era diferente: em abril, sua mãe comprava lã nas Casas Pernambucanas para fazer pijamas para as crianças, pois a temperatura começava a cair.
Eu só durmo coberto com cobertor de lã — o calor é tanto que mantenho o ar-condicionado do quarto nos dezenove graus.
Os aparelhos de refrigeração tornaram-se indispensáveis nas casas cuiabanas de agora.
E como fazem falta as chuvas!
Não apenas para amenizar o calor, mas para embelezar o jardim, trazendo de volta as flores e os verdes vivos.
Passamos longos períodos sem um pingo d´água, seguidos de ameaças barulhentas com raios e trovões.
E a chuva, quando vem, só molha a calçada.
Enquanto escrevo, chove torrencialmente em Várzea Grande e uma leve brisa entra pela janela do meu escritório.
Minha funcionária olhando para fora, confirma: está trovejando por lá.
A chuva que não chegou aqui ao menos aliviou o calor desta tarde de novembro.
E isso já basta para contentar o cuiabano.
Os antigos, acostumados a tomar banho de chuva e a mergulhar nos córregos da cidade — Prainha, Barbado, 8 de abril, entre tantos — sentem saudades do tempo que passou e que tudo mudou.
Gabriel Novis Neves
21-11-2025
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