quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

PRESENTES PARA MINHA CRIANÇA


Esperar algo e receber quase nada cria expectativa, frustração, consumo e, às vezes, ensina simplicidade.

 

Quando criança no dia do meu aniversário, logo após o almoço, eu criava grande expectativa pelos presentes.

 

Aprontava-me cedo e ficava sentado à janela da minha casa, na rua de Baixo, à espera das visitas.

 

A cama estava arrumada para receber os embrulhos e, também os telegramas dos meus tios que não moravam em Cuiabá.

 

Eram grandes, generosos, e ocupavam lugar de destaque.

 

O primeiro a chegar era sempre meu tio Mocinho, irmão do meu pai.

 

A alegria que sua presença despertava em mim superava qualquer expectativa, e a frustração passava bem longe.

 

Ele trazia coisas simples: caixas de lápis de cor, cadernos pautados, brinquedos comprados nas lojas da cidade.

 

Tudo singelo, mas o pacote ocupava metade da cama, já dividindo espaço com os telegramas.

 

Meu avô vinha depois.

 

Deixava um envelope perfumado, que significava dinheiro.

 

Era leve e ficava guardado com a minha mãe.

 

Os pacotes que recebia — embora alguns fossem leves demais — jamais me frustraram por sua simplicidade.

 

Vivíamos um tempo de não consumismo.

 

A alegria não estava no peso do presente, mas na lembrança e no gesto.

 

Os presentes eram simples, nada que o filho de um pobre não pudesse ter.

 

No pacote, sempre havia balas de sabores variados.

 

E isso bastava.

 

O pacote podia ser leve demais, porque a felicidade não tem peso.

 

Naquela data, tudo o que queríamos consumir era felicidade, reunidos com os amiguinhos.

 

A mesa de doces estava posta na varanda, repleta de guloseimas preparadas por minha mãe, regadas aos refrigerantes do bar do meu pai.

 

A solenidade da festa tinha início com o discurso do professor Ezequiel de Siqueira, sempre acompanhado de seus dez cachorros.

 

Encerrada a festa, minha mãe distribuía o que sobrava pela vizinhança.

 

Foram tempos felizes, em que o peso dos pacotes nada significava.

 

Gabriel Novis Neves

06-12-2025






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