Esperar algo e receber quase nada cria expectativa, frustração, consumo e, às vezes, ensina simplicidade.
Quando criança no dia do meu aniversário, logo após o almoço, eu criava grande expectativa pelos presentes.
Aprontava-me cedo e ficava sentado à janela da minha casa, na rua de Baixo, à espera das visitas.
A cama estava arrumada para receber os embrulhos e, também os telegramas dos meus tios que não moravam em Cuiabá.
Eram grandes, generosos, e ocupavam lugar de destaque.
O primeiro a chegar era sempre meu tio Mocinho, irmão do meu pai.
A alegria que sua presença despertava em mim superava qualquer expectativa, e a frustração passava bem longe.
Ele trazia coisas simples: caixas de lápis de cor, cadernos pautados, brinquedos comprados nas lojas da cidade.
Tudo singelo, mas o pacote ocupava metade da cama, já dividindo espaço com os telegramas.
Meu avô vinha depois.
Deixava um envelope perfumado, que significava dinheiro.
Era leve e ficava guardado com a minha mãe.
Os pacotes que recebia — embora alguns fossem leves demais — jamais me frustraram por sua simplicidade.
Vivíamos um tempo de não consumismo.
A alegria não estava no peso do presente, mas na lembrança e no gesto.
Os presentes eram simples, nada que o filho de um pobre não pudesse ter.
No pacote, sempre havia balas de sabores variados.
E isso bastava.
O pacote podia ser leve demais, porque a felicidade não tem peso.
Naquela data, tudo o que queríamos consumir era felicidade, reunidos com os amiguinhos.
A mesa de doces estava posta na varanda, repleta de guloseimas preparadas por minha mãe, regadas aos refrigerantes do bar do meu pai.
A solenidade da festa tinha início com o discurso do professor Ezequiel de Siqueira, sempre acompanhado de seus dez cachorros.
Encerrada a festa, minha mãe distribuía o que sobrava pela vizinhança.
Foram tempos felizes, em que o peso dos pacotes nada significava.
Gabriel Novis Neves
06-12-2025
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