segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Preocupação


Estou vendo o mundo através de uma lente de aumento e isto só me causa sofrimentos.
Sou canceriano e utópico. Chego aos oitenta anos com a minha parte orgânica em excelentes condições para a faixa etária em que trafego.
Em um país de jovens ainda consigo me comunicar com essa tribo de valores tão diferentes - e vou vivendo.
O mesmo não posso dizer com relação aos meus contemporâneos.
Em recente reunião com colegas médicos de 1960, disse-lhes, em termos provocativos, que sinto que tenho um grande futuro promissor...
Foi o suficiente para cortarem a minha palavra e sugerirem, no “bom sentido”, um teste do bafômetro.
A realidade é que, sabendo ser finito, imagino esse final tão distante que nem valorizo como deveria o hoje, sabendo que o amanhã é sempre uma dádiva da natureza.
Imaginar um longo futuro a esta altura é um exercício de generosa futurologia biológica.
Como nada neste mundo é perfeito, vivo sobressaltado pelas preocupações fantasmas com a minha família e meu país.
Que mal fazem as notícias do dia a dia!
Estamos na ressaca do Mensalão, trabalhando com a decepção, ao assalto inacreditável da Petrobras, saques ao Tesouro Nacional, o escândalo da Operação Terra Prometida, que atingiu o nosso Estado e os barões do agronegócio.
Passamos os dias sobressaltados com a audácia dessas quadrilhas que estão liquidando com esta nação.
Exemplo típico de doença social que compromete a nossa saúde física e psíquica.
Como mecanismo de defesa da nossa personalidade, projetamos profundas preocupações pessoais.
Este é o perfil do idoso brasileiro, que abrange uma camada de pessoas bastante significativa com o aumento da expectativa de vida nos últimos anos.
O tratamento para essa patologia da idade avançada é ouvir Pixinguinha, Cartola, Nelson Sargento, Paulinho da Viola, Vinícius de Moraes, Tom, Baden Powell e tantos outros mitos da nossa cultura musical.
E a vida continua, onde “a imaginação oferece às pessoas consolação por aquilo que não podem ser e humor para aquilo que efetivamente são”. Albert Camus.

Gabriel Novis Neves
28-11-2014

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