Procurei
o posto de saúde do bairro em que trabalho para me vacinar contra a gripe.
Oportuno
lembrar que essa vacina foi fabricada com os vírus que nos atacaram há dois
anos.
Esses
vírus sofrem constantes mutações e, por essa razão, entre outras, uma pessoa
vacinada poderá contrair essa chata doença, que não tem tratamento específico.
No
postinho - nome carinhoso para as Unidades de Atenção Primária de Saúde, -
chamou a minha atenção a ausência de pacientes para consultas de rotina e
somente dois para a vacinação.
Aproveitei
a tranquilidade do ambiente para conversar com o médico responsável. O seu
companheiro (médico residente) tinha se ausentado por estar com a tarefa
concluída, imagino.
Recebi
uma verdadeira aula prática, atualizada e real da situação precária da nossa
saúde pública, que não é diferente do resto do país.
Muitos
dos atuais prefeitos têm conhecimento de que o SUS funciona em três grandes
níveis de atendimento, com complexidade crescente.
O
primeiro, mais amplo e mais importante, é o da Atenção Primária de Saúde, onde
estão distribuídos os PSF com a sua ação preventiva.
Também
fortalece esse trabalho os Centros de Saúde.
Recentemente
o governo federal criou o PROVAB (Programa de Valorização de Atenção Básica),
com dois objetivos.
Preencher
as vagas existentes com os médicos recém-formados e oferecer créditos para o
ingresso em um curso de Residência Médica. Recebem uma bolsa cuja duração
é de um ano, podendo ser prorrogada por mais um.
A
carga horária dos médicos do PROVAB é de trinta e duas horas semanais, para que
tenham tempo de se prepararem para as provas da residência médica.
O
valor da bolsa é de oito mil reais mensais.
Nosso
município possui três PSFs (Programa Saúde da Família) para atender a zona
rural (Guia, Rio dos Peixes e Aguaçu). Cuiabá tem sessenta e cinco PSFs, sem
autonomia para realizarem um atendimento com terminalidade.
Seus
médicos possuem perfis, cargas horárias e vencimentos diferenciados.
As
equipes da atenção primária de saúde só encontram dificuldades para
desempenharem com eficiência as suas tarefas.
A
estrutura física é inadequada: faltam biombos, lençóis, as torneiras estão
enferrujadas, os telhados arrebentados, falta espaço para o trabalho e até
material para simples exames e medicamentos.
As
mulheres que dependem do PSF para um exame de prevenção do câncer de colo
uterino, fogem do posto, pois os mesmos, na sua maioria, não lhes oferecem
condições de dignidade para a coleta do material.
É
triste saber que isso acontece na cidade da Copa.
Os
recursos nunca são suficientes ao ponto cruciante, que é a atenção primária.
O
segundo nível de atendimento é a Atenção Secundária de Saúde, destinada a
resolver os problemas de média complexidade. Para auxiliar nessa tarefa,
recentemente foram criados as UPAS, que são unidades de Pronto Atendimento, não
atendendo a alta complexidade. Muitos não trazem resolutividade para a baixa
complexidade.
Nós
temos uma UPAS ainda em construção, e outra em discussão. Programada pelo
governo federal mais duas.
As
policlínicas deveriam dar terminalidade aos problemas básicos da saúde,
encaminhando ao Pronto Socorro apenas os casos de alta complexidade.
Temos
seis policlínicas, todas desfalcadas de recursos humanos e materiais. Funcionam
quase como passagem para o Pronto Socorro.
O
terceiro nível atende a saúde terciária. É o pico da pirâmide, onde temos o
hospital do Pronto Socorro.
Já
os médicos das policlínicas e do hospital do Pronto Socorro têm salários e
cargas horárias de acordo com a sua especialidade.
Eles
já perceberam que sem uma priorização da rede básica, pouco resolverá a
construção de um novo Pronto Socorro.
Casa
de taipa com cobertura de vidro não transmite segurança ao seu usuário.
Gabriel Novis Neves
16-04-2013
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