quarta-feira, 11 de agosto de 2010

INTRIGAS

Não vou mais pagar as minhas contas. Se não chegar a um acordo amigável, irei procurar a justiça. Afinal, faltando um quarto de século para completar o meu centenário de nascimento, não acho justo continuar trabalhando como trabalho. Confesso que ganho o suficiente para viver decentemente, sem extravagâncias. Mantenho uma lista de despesas e outra de impostos. O que sobra é para alguma pequena emergência. Parei de viajar ao descobrir que não conhecia profundamente a minha gente e as nossas riquezas naturais e culturais. Enquanto não esgotar este trabalho, o meu lugar é aqui. Foi a minha reação ao ler a notícia do jornal.

Fiquei sabendo que o marido da minha filha “pagou contas de lazer para um grupo de amigos.” Achei estranho, pois o conheço muito bem. Mostrei-lhe o jornal. Nada demais. A história é que foi convidado para o passeio, por um casal amigo, com direito a levar a sua mulher. O dinheiro não era público, mas produto do trabalho honesto dos anfitriões. Nada a condenar, mas se fosse verdade, reclamaria por isonomia.

Paga lá, paga cá, é o justo - se acreditasse na notícia publicada. No meu caso iria propor que as minhas despesas, que são depositadas nas minhas anêmicas contas - às vezes vermelhas de vergonha – fossem depositadas em outro endereço, na rubrica patrocínio. O encontro de contas mensais, não iria mais aceitar. Com isso ficaria mais tranqüilo e com mais tempo para fazer o que gosto.

Como é importante a leitura de jornais! Se em algum momento, tivesse desconfiado dessa “generosidade,” que sinceramente desconhecia do meu genro e sócio, quantos momentos maravilhosos poderia ter aproveitado! Pretendia com esse benefício, que com toda a certeza receberia - reajustar os valores do meu mensalinho.

Devo ao sonho de uma possível melhora na minha qualidade de vida, e dos meus próximos, a cegueira que a paixão política produz, especialmente em ano eleitoral.

A beleza da paixão está na sua irracionalidade e temporariedade.

“O único pecado que a paixão pode cometer é ser sem alegria.” É o caso da notícia no jornal.

Gabriel Novis Neves

30/06/2010

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