É comum dizermos que não temos tempo para nada — especialmente para nós mesmos.
De tanto repetir essa frase acabamos por acreditar nela.
Mas sempre encontramos um espaço para realizar aquilo que nos é útil —seja para nós, seja para os outros.
E com que prazer nos dedicamos a essas tarefas que nos trazem satisfação.
Desde criança aprendi a fazer o tempo render. A ociosidade, para mim, é fonte de dissabores.
Quanto mais ocupado estou, menos horas de repouso preciso para me recuperar.
Falamos e ouvimos tantas besteiras, que acabamos sofrendo por motivos tolos.
Daí para uma vida sem sentido é um passo —e logo nos vemos no consultório de um psiquiatra, com uma farmácia particular instalada em casa.
Uma vida familiar organizada também nos ajuda a escapar dessas armadilhas.
Os profissionais vitoriosos costumam estar satisfeitos trabalhando o dia todo naquilo que gostam — e que lhes dão prazer.
Parece um fardo trabalhar o tempo inteiro, mas isso é uma inverdade.
O idoso, em especial, precisa estar atento para não passar o dia inteiro sem nada a fazer.
Observar o dia escorrer apenas acompanhando os ponteiros do relógio, é um exemplo a não ser seguido.
Mesmo sem ter um tema definido, procuro me esforçar para que brote ao menos um risco de inspiração —só para preencher o vazio intelectual.
Fazer o cérebro trabalhar é um santo remédio. Não se pode deixar esse órgão tão precioso desocupado — ou pior, sem tempo para fazer nada.
Tenho pressa em terminar este texto, só para saber qual será a minha próxima inspiração. Essa é, hoje, minha principal atividade: brincar de ocupar o tempo.
Quero não ter tempo o dia todo teclando no meu computador.
As funcionárias, que me observam escrevendo pela manhã e à tarde, às vezes perguntam se não me canso.
Mas é exatamente essa falta de tempo que me faz trabalhar sem parar —e, curiosamente, isso não me cansa.
Qual será o assunto do próximo texto?
Gabriel Novis Neves
24-04-2025