Na vida, há tempo para tudo. Já percorri muitas dessas etapas.
Ao entrar na casa dos noventa, recordo-me de cada uma delas.
Aumentei a família e acumulei amizades ao longo do caminho.
Tudo começou na casinha da rua de Baixo onde nasci, e chegou até os dias de hoje.
A festa de aniversário pelo meu nascimento tornou-se inviável — pelo número enorme de convidados.
Tudo tem seu tempo, até mesmo para celebrar nossas datas.
Lembro-me com carinho das pessoas queridas que ainda estão comigo, e daquelas que já partiram.
Como eram simples as primeiras reuniões de aniversário, e como se tornaram difíceis hoje, carregadas de simbolismo.
Eu também já não sou o mesmo para suportar horas de duração.
O pior é esquecer daqueles que não deveriam ser esquecidos.
Nessa longa caminhada, quantos amigos ganhei! E quantos familiares vieram somar!
Se ainda pudesse comandar plenamente o corpo, me aventuraria a abraçar todos os que me são caros.
Com as mídias socias, um mundo de gente lembrará — tarde demais — que foi esquecida do encontro.
Isso certamente me entristeceria, tirando a alegria de um momento tão especial.
Minha emoção ficará à flor da pele diante de reencontros desejados, mas fora do tempo.
Meus filhos, familiares e amigos próximos desejam o encontro afetivo.
De outro lado, minha saúde prefere o repouso.
Nesse desassossego, apelo à escrita, que me ajuda a atravessar o tempo.
Sempre fui muito simples nas comemorações.
Como exemplo, cito meu casamento — e o da minha filha.
Deus sempre protegeu os humildes. Sinto-me um desses privilegiados.
Com a idade, parece que perdemos o comando das decisões —pensam alguns.
Mas pretendo manter a integridade das minhas escolhas, em respeito à minha saúde.
Gabriel Novis Neves
08-06-2025