sábado, 4 de maio de 2024

O OLHAR DE UM RECÉM-NASCIDO


É todo bebê que acabou de nascer e vai até a idade de 28 dias.


Tenho uma bisneta que está com oito dias de vida.


Tem muita saúde e faz três coisas: dorme o dia todo e só acorda para mamar nos seios da mãe, com olhos fechados.


Para trocar as fraldas com mecônio escorrendo pelas coxas e costas, misturados com urina.


Tomar banho e trocar de roupa.


Nesse período do seu desenvolvimento, o recém-nascido dorme vinte e três horas por dia para ganhar peso.


Encontrou um lar cheio de amor para lhe abrigar.


Sua irmã, prima e primo esbanjam carinho sobre ela.


Carregando-a no colo ou apreciando-a no berço do quarto bem arejado com refrigeração e babá de plantão.


Ontem recebi um telefonema de sua prima mais velha de sete anos, muito satisfeita, de alegria incontida, dizendo que a Valentina abriu os olhos após o banho, e ela viu pela primeira vez a cor dos seus olhos.


Biso: não sei se eles são verdes ou azuis.


Como ela é ‘muito pequena’, a cor poderá mudar.


Desligou morrendo de alegria com a descoberta que fez e prudência para esperar ela crescer um pouquinho para saber com certeza a cor dos olhos da sua prima caçula.


O velho médico parteiro de Cuiabá tremeu de alegria com o telefonema que recebeu.


Meu bisneto de três anos aprendeu a me chamar pelo celular para dar notícias da sua nova prima.


Diz que ela só sabe dormir e fazer cocô preto.


Tenho várias dezenas de fotografias da minha nova bisneta, todas de olhinhos fechados com bochechas boas para apertar, segundo a sua tia.


Vou esperar mais uns dias para abraçar, apertar e beijar a minha bisneta, presente de Deus!


Minha cunhada me enviou uma foto da sua sobrinha de sessenta dias deitada no berço e olhando para sua mãe.


Todos que viram essa foto ficaram extasiados com a beleza do olhar dessa criança!


Nem os mais consagrados pintores da humanidade ou a Inteligência Artificial, são capazes de reproduzi-los.


A criança sabe que foi entendida pelos pais e pessoas queridas.


Os pais compreenderam a mensagem dos olhos da sua filha, tão frágil e agradecida em um leito de UTI após uma cirurgia cerebral, realizada com sucesso.


Os olhos falam, entendem, e isso não é coisa de poeta, mas, daqueles que enxergam o coração amado.


Gabriel Novis Neves

03-05-2024






sexta-feira, 3 de maio de 2024

SONECA COM SONHO


Fui educado desde muito criança, a dormir logo após o almoço.


Incorporei esse hábito e levei para à minha vida conjugal, com total apoio da minha mulher.


Tem um embasamento científico.


Após a primeira metade do dia, em que perdemos energia, é aconselhável após o almoço um relaxamento do corpo para enfrentarmos a outra parte do dia.


É bom seguir o exemplo dos operários da construção civil, por exemplo, que iniciam seus serviços às sete da manhã e ás onze a sirene da empresa toca avisando que chegou a hora de parar o serviço.


Os trabalhadores procuram uma sombra, quando existe por perto, abrem a marmita que trouxeram de casa e após almoçarem esticam o corpo cansado no chão forrado por jornais velhos ou em tábuas da construção.


Cobrem o rosto com jornais ou chapéus e dormem profundamente sem sonhar.


Ás treze horas retomam ao trabalho com o mesmo ‘entusiasmo’.


Na Cuiabá de antigamente até o comércio fechava as suas portas e as ruas ficavam desertas.


Andando nas calçadas das ruas da minha cidade eu ouvia perfeitamente o ranger das cordas das redes, nas argolas de aço que sustentavam as redes nas casas cuiabanas.


Uma tosse ou outro ruído fisiológico interrompiam o silêncio.


Meus pais vestiam pijamas e camisolas para descansarem.


Depois, meu pai tomava banho de tanque com a molecada e voltava para o bar.


Café tomado, vestido de terno e gravata, sendo que às terças, quintas e sábados, ia direto ao barbeiro na rua do Meio.


Quando retornei médico para exercer a minha profissão, após a sesta, tomava uma chuveirada de água fria, e retornava ao trabalho, renovado para a segunda etapa sem horário para terminar.


Era comum entrar noite a dentro atendendo pacientes ou realizando cirurgias.


Nunca ouvi meu pai comentar ou sonhar na sesta.


De uns tempos para cá tenho sonhado no curto tempo da sesta, obrigando a levantar-me da cama.


Estou desconfiado que a máscara do CEPAP seja a causadora dos sonhos da sesta.


Venho logo para o escritório, e o banho só após o fim da crônica.


A idade avançada é maravilhosa, e todo o dia ela apronta uma nova para eu decifrar.


Gabriel Novis Neves

29-04-2024




COMEMORAR O DIA DO TRABALHADOR


Nada melhor que trabalhar com intensidade na elaboração das minhas crônicas.


Antes do almoço escrevi duas, e agora tento a terceira.


Sinto-me leve e distraído, esquecendo do mundo que vivo.


As preocupações não nos deixam: vivem a nos rodear.


Troquei os jogos de futebol pela tela branca do computador, que vou preenchendo com as minhas ideias.


A cuidadora de hoje está terminando o curso de técnico de enfermagem.


Hoje não se esqueceu dos óculos de grau, e passou o dia todo estudando o assunto da prova escrita de amanhã, que será sobre a ‘saúde do idoso’.


Disse a ela que o assunto é uma barbada, pois há dois anos ela faz a prática cuidando de mim.


As dúvidas tiram comigo, que sou um idoso que não dá trabalho.


O pobre sabe que tem que concluir um curso técnico de nível médio ou superior.


Só assim terá salários melhores e possibilidade de um concurso na área de saúde.


O mercado está muito competitivo e só permanece nele os mais competentes.


Eu continuo ‘enchendo linguiça’ preenchendo a página do meu Word, feliz e leve, ao contrário daquilo que muitos pensam.


Minha revisora daqui a pouco reclama pelo excesso de trabalho no dia do trabalho.


Gostaria de produzir pérolas como as corredeiras dos garimpos do nosso Estado.


Frases leves, como as asas das borboletas em meu jardim namorando as flores.


Poemas e delicadeza dos versos de Dom Aquino Correa.


Elegância de um Manoel de Barros.


O português sem erros, do professor-aposentado Germano Aleixo Filho, da Universidade Federal de Mato Grosso.


Mas, aí é esperar muito de um escritor de anamneses e relatórios médicos.


A tarde se vai, o sol se escondendo no horizonte e o meu trabalho findando.


Haverá troca de plantão entre as cuidadoras.


Início das tomadas dos remédios da noite, e a chuveirada reconfortadora.


E a crônica chegou ao seu fim!


Gabriel Novis Neves

01-05-2024




quarta-feira, 1 de maio de 2024

IDADE BOA


Estou na melhor idade, quando tudo é permitido e nada é proibido.


Já vasculhei o meu computador, e única coisa interessante que encontrei, foram trabalhos antigos da Tiazinha na TV.


Não existe início de carreira fácil, tanto isso é verdade que ela abandonou ‘a fama’ no terceiro ano de carreira ‘artística’.


Deixou a família de migrantes nordestinos pobres, para se tornar uma moça ricaça no bairro de gente rica de São Paulo.


O dinheiro que sempre faltou nunca foi problema para a sua performance, enchendo a sua conta bancária.


Tudo que um rico adquiria, a Tiazinha comprava, como: mansões, carros blindados com motoristas, seguranças, camareiras, governantas e serviçais.


Passou a sustentar sua enorme família.


A menina pobre-rica após três anos de sucessos nacionais e internacionais, foi vencida pela fama e a vida de milionária que levava.


Símbolo sexual da segunda metade dos anos noventa, namorava quem queria, geralmente famosos e ricos.


Abandonou tudo que conquistou em apenas três anos de ‘carreira artística’ e procurou se curar.


Não queria ser a personagem que criou para a televisão.


Foi à Índia e ao Peru.


Percorreu cidades da Europa e Canadá à procura do remédio milagroso, que curasse o seu sucesso.


A personagem Tiazinha, deixou de existir há quase trinta anos.


Nasceu uma dona de casa, com marido e filho, proprietária de uma academia de ginástica e atriz sazonal, sem popularidade, com menos de cinquenta anos.


Sai na rua tranquilamente e não é assediada, e só alguns idosos se recordam dela.


Como estou na ‘idade boa’ me dei ao luxo dessa pesquisa, e algumas linhas sobre esse personagem.


É educativo, pois demonstra que tudo que é muito fácil de adquirir, faz mal à saúde emocional e ao bolso.


Em outros tempos eu não teria tempo para bisbilhotar o computador à procura de assuntos banais, e ainda escrever um texto.


Tudo é permitido ao idoso, inclusive escrever sobre fatos reais, que chamaram a ‘atenção de gerações’, hoje na maturidade.


Gabriel Novis Neves

30-04-2024




COMO SOU


Não sei se acontece com todos os idosos o que é frequente em mim.


Não posso ter o mínimo de preocupação, que o meu emocional dá sinais de alteração no meu humor.


Parece até que nasci diferente dos meus outros irmãos, não suportando preocupações, por menores que sejam.


Estou com a minha saúde estabilizada, sem necessidade de cuidados especiais, além da companhia das cuidadoras.


O simples fato de ter uma consulta preventiva de rotina ao dentista, basta para me ‘encher de preocupação’.


Procuro me livrar desse incomodo, jogando toda a culpa nos meus deslocamentos que têm que ser feitos com apoio de terceiros.


Há anos não dirijo, e ultimamente preciso de uma cadeira de rodas, pela artrose dos joelhos, fruto da longevidade.


Como dizia a minha mãe, são desculpas ‘esfarrapadas’ que servem para esconder o verdadeiro motivo do meu ‘padecimento’.


Sou assim desde criança, bem diferente do meu pai, que nunca demonstrou preocupação, mesmo com nove filhos para educar - e bem!


Hoje acordei ‘atrapalhado’ e escrevo como terapia para esquecer minhas minúsculas preocupações, vistas com lentes de aumento.


Não me tornei um homem rico em bens materiais para fugir das preocupações que um grande investimento causa.


Poderia citar as oportunidades perdidas, porém por prudência deixo de mencioná-las.


Repito: trabalhei durante a minha vida toda, não para ser rico, mas para não sofrer ‘humilhações financeiras’ na idade em que me encontro.


Meus filhos são empresários, vivem folgados financeiramente, mas eu não suportaria as suas preocupações.


Sofro com as pequenas preocupações e não tenho com quem compartilhar.


É uma sensação que nada ‘está bom’, passando com o tempo, porém, podendo voltar a qualquer instante.


Mesmo na folgada vitória do Botafogo contra o time milionário do Flamengo, ‘fiquei preocupado’ até o jogo terminar.


Era para estar tranquilo, pois o Flamengo tem muitos jogadores ‘veteranos’ e ‘bichados’!


São assim os meus dias!


Gabriel Novis Neves

29-04-2024




segunda-feira, 29 de abril de 2024

BOA COMPANHIA


Lendo um jornal de circulação nacional descobri que estou em boa companhia no episódio de escrever uma crônica diária.


Levantei mais cedo que o normal, e a manhã pareceu estar mais esticada, possibilitando-me a leitura das respostas à minha crônica, e a dos jornais não impressos.


Fiz a coleta de sangue de rotina no primeiro horário às 6:30 h, e fiquei sabendo de muita coisa importante pelo funcionário do laboratório de exames clínicos e manhã alargada.


Primeiro: que a justiça autorizou o laboratório a continuar a atender o meu plano de saúde.


Mas a luta continua na justiça, que é lenta.


‘Ela tarda, mas não falha’, diz o provérbio popular.


Como exemplo cito o caso dos professores da UFMT, que há 29 anos lutam por um direito adquirido.


Já ganharam em todas as instâncias superiores, e na prática não resolveram nada.


Está ‘transitado em julgado’ a nosso favor e não cabe mais recursos ao processo.


Na melhor das hipóteses no ano que vem, 2025, os 28,85% serão incorporados aos nossos holerites.


Os atrasados, em 2026, como precatórios.


Tem que ser portador de longevidade e muita fé para receber aquilo que é nosso.


Os professores são mal remunerados e têm que ficar no filão.


Muitos já partiram para o plano espiritual deixando essa grana como herança.


Retornando ao assunto da crônica, que muito me consolou, foi que ‘bambas’ do jornalismo passam pelas mesmas dificuldades que eu.


Relatam que chegam às redações dos jornais, abrem a tela branca do notebook e ficam por horas a ‘espera da inspiração’ para escrever sua crônica obrigatória.


Sendo profissional da escrita, foi um alento para mim saber das dificuldades que outros encontram.


Como são sábios os provérbios populares.


Para resumir pode ser encaixado no final deste texto:


‘Pau que bate em Chico, bate em Francisco’, ou não?


Gabriel Novis Neves

23-04-2024




EFEITO MARIA VALENTINA


No primeiro sábado da Maria Valentina entre nós poucos membros da família confirmaram presença no almoço tradicional.


A família aumentou e diminuiu a presença deles no almoço de sábado.


Todos estão ninando a Maria Valentina e fotografando todos os seus primeiros momentos na Terra.


Por enquanto a sua irmã Maria Regina não tem concorrentes.


Hoje acompanhou o banho e ajudou a vesti-la com roupa, toca, luvas e sapatos de bebês, para suportar a refrigeração do seu quarto.


Essa farra termina amanhã com a chegada dos seus primos Maria Isabela e João Gabriel do exterior.


Gostaria, e muito, de estar presente nesse encontro de primos!


Será que irão tratá-la como uma bonequinha de verdade?


Cedo recebi uma chamada do João Gabriel, comunicando a sua chegada e saber notícias da priminha.


Ele pegou o celular da mãe, procurou a minha foto no status e clicou para mim.


Perguntei se já conhecia Valentina e se estaria presente com a sua família no almoço de hoje.


Respondeu que viu retratos da prima e estaria viajando na hora do almoço.


Como as crianças de agora são espertas e sabem de tudo.


Minha geração passeava de ônibus pelo Porto, Coxipó da Ponte. Nas férias escolares poucos subiam a serra até o Balneário das Águas Quentes.


Os pais que tinham melhor poder aquisitivo, encaminhavam seus filhos de 17 anos para estudar o curso superior, de preferência no Rio de Janeiro.


Relatei o que aconteceu comigo e parte da minha geração.


A maioria ficou por aqui mesmo, trabalhando no comércio e serviços públicos.


Casavam com moças daqui, constituindo família.


Aqueles que estudavam fora, permaneciam por longo período distante da nossa cidade, e quando do regresso ao seu torrão natal, vinham casados e às vezes com filho.


Foi o caso do biso da Valentina.


A mesa do almoço quase vazia no primeiro sábado da minha nova bisneta entre nós, eu apelidei de ‘efeito Valentina’.


Isso será corrigido daqui a dois meses, no primeiro sábado de julho, dia que completarei 89 anos de vida.


Será a festa do meu aniversário, abrindo a porteira para os 90!


Gabriel Novis Neves

27-04-2024