De todas as doenças que estudei a mais incomodativa, em
minha opinião, é a do sofrimento antecipado.
Sou vítima dessa patologia e sei o que isso significa
para a saúde humana.
Dia desses fiz um exame de prevenção dentária. Procedimento simples: exame da arcada
dentária e retirada de tártaros (depósitos de cálcio que se forma nos dentes),
mais intensa em velhos.
Poucos dias depois, a secretária da clínica me telefonou
para confirmar o meu retorno e solicitou que eu chegasse um pouquinho mais
cedo. Eu seria examinado por um odontólogo especialista em implante
dentário.
Pronto! Estava instalado em mim o sofrimento antecipado.
Algo de muito grave fez com que a minha periodontista
solicitasse um parecer especializado.
Só me tranquilizei após o exame do cirurgião que me
liberou dizendo que tudo estava normal para a minha idade.
Que alívio! Interessante que nesta fase da vida sempre
que procuro um profissional de saúde ouço essa sentença – “para a sua idade
tudo está normal!”.
Entendo que os desgastes naturais sofridos pelo nosso
organismo no decorrer dos anos são considerados normais até o fechamento do
nosso ciclo vital.
Os que sofrem por antecipação passam horas, dias, semanas
e meses sempre pensando na pior das hipóteses.
No caso da revisão odontológica, o mínimo que imaginei
foi um implante de dentes e, na pior das hipóteses, numa moderna dentadura.
Isso vale para as outras surpresas que a vida nos aponta.
No ambiente político nacional e internacional o
sofrimento antecipado é uma realidade.
Há séculos estão mexendo com fogo no Oriente Médio, tendo
como pano de fundo a religião e as riquezas naturais.
Recentemente, o resultado foi o maior ato terrorista
contra a cidade mais charmosa do mundo, deixando centenas de inocentes vítimas.
Aqui na terrinha de Pedro Álvares Cabral o desmando
administrativo, símbolo da falta de governo, é o nosso maior sofrimento por
antecipação.
O mundo precisa passar por uma grande terapia analítica
para encontrar a paz e se libertar do terrível sofrimento do que provavelmente
virá, nem sempre confirmado.
Quanto mais pavor, mais precisamos manter a
racionalidade. Isso serve para tudo na vida.
Precisamos muito da leveza do viver...
Gabriel
Novis Neves
19-11-2015
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