É
comum receber reclamações de amigos da minha faixa etária queixando-se que,
atualmente, falta-lhes tempo para tudo.
Uma
colega espirituosa inventou que acorda com várias vassouras, simulando o
excesso de trabalho que irá enfrentar no decorrer do dia.
Nessas
ocasiões, lembro-me muito da minha mãe. Ela dizia, quando a visitava, que não
tinha tempo para nada, do alto os seus noventa e dois anos de idade.
Acordava
sem sono de madrugada e, no final do dia, não conseguia cumprir nem metade das
suas tarefas programadas. Tentava acalmá-la dizendo ser essa atividade um
excelente sinal de vitalidade e saúde.
São
certas pessoas que, apesar da idade avançada, já na marca do pênalti, não
perderam o sentido belo da vida.
Elas,
quando saem para um restaurante, procuram os que já conhecem e tomam o cuidado
de reservar a mesa predileta para não ficar na fila de espera, coisa insuportável
para um idoso elegante.
Geralmente
assistem a filmes quando a crítica é favorável, pois não têm mais tempo para
experiências desastrosas. Procuram sempre o certo para evitar o
retorno a casa com o sabor do “não valeu à pena”.
Gosto
muito das pessoas ocupadas, pois estas não estão mais disponíveis a viver
experiências novas e enriquecedoras.
Perder
tempo é para os jovens.
O
idoso sabe daquilo que gosta e até aprecia mais os prazeres juvenis. A única
diferença existente entre o jovem e o idoso é que este não tem mais tempo para
desperdiçar.
Nas
viagens, preferem algumas cidades já bastante conhecidas. No meu caso, Rio de
Janeiro e Buenos Aires.
Fico
sempre nos mesmos hotéis, procuro os mesmos restaurantes, a mesma mesa, o mesmo
prato e de preferência o garçom de sempre.
Estamos
na fase em que não há mais tempo para perder com bobagens, e jogar a falta de
tempo nas costas da solidão.
“Tempo
disso, tempo daquilo, falta o tempo de nada”. Carlos Drummond de Andrade.
Gabriel
Novis Neves
12-10-2013
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