domingo, 25 de setembro de 2011

CIDADE SUMIÇO

Não preciso provar o meu amor por Cuiabá, cidade onde nasci. Além de "Cidade linda e agarrativa", é cheia de mistérios.

Sem receio de errar, afirmo que a minha querida cidade de gente boa é uma cidade de sumiços.

No século XVIII o teatro em Cuiabá era tão marcante, que mereceu da nossa UFMT uma publicação a esse respeito, se não me engano em 1977. Deram um sumiço no nosso teatro, e agora fico sabendo dos seus inventores, todos com menos de sessenta anos.

A primeira fábrica de cerveja de Cuiabá funcionou no início do século XX às margens do rio Cuiabá, no Porto.

Deram um sumiço nessa indústria genuinamente cuiabana e hoje muitos pensam que foi uma multinacional a pioneira.

O comércio exterior de produtos mato-grossenses é vendido como conquista recente dos colonizadores do Nortão.

Até o início do século XX, a região de Barra do Bugres mantinha com países europeus intenso comércio de ipeca, abastecendo indústrias farmacêuticas da Inglaterra, Alemanha, Suíça e França, principalmente.

A poaia foi substituída pelas rentáveis fazendas de gado e grãos, e sumiram com essa planta de raiz terapêutica.

Nunca tivemos o Rei da Poaia, mas estamos cheios de outros Reis que trabalham com, e, na terra.

A lista não acaba nesses exemplos, mas há um sumiço recente em nossa cidade.

Há poucas semanas, a minha grande preocupação era o excesso de veículos estacionados nas calçadas e laterais das principais ruas da eterna capital de Mato Grosso.

Os entendidos em trânsito ficaram em alta na mídia explicando como fazer diante do caos. A solução parecia tecnicamente impossível a curto tempo.

Sugestões encontradas eram de tráfego aéreo, subterrâneo, VLT. Providências para médio e longo prazos foram tomadas, com recursos abundantes de empréstimos bancários.

Esqueceu-se que a misteriosa Cuiabá, sem nenhum investimento, resolveria o problema, pois é cidade sumiço.

Bastou alguém proibir o estacionamento de veículos em uma das laterais das vias de maior trânsito com uma simples pintura em amarelo no meio-fio, que houve um sumiço dos carros que entupiam as nossas ruas e avenidas.

Claro que para o sucesso da ideia, a Polícia Militar deixou os bandidos e traficantes soltos para que, com os seus talões de multas, dessem um sumiço no excesso de carros estacionados na cidade.

O trânsito está fluindo normalmente e os motoristas estão dirigindo com mais segurança.

Onde foram parar os carros moradores de rua?

Novos estacionamentos não surgiram em Cuiabá. Ninguém deixou de andar de carro, muito menos reclamou da nova medida.

Não há notícias de que alguém vendeu o seu carro, pelo contrário, está todo mundo adquirindo o seu.

Onde foram parar esses carros?

Cuiabá é mesmo uma cidade sumiço.


Gabriel Novis Neves

05-09-2011

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