Era secretário de educação do governador Pedro Pedrossian, que quebrou vários paradigmas em sua administração, quando em minha sala de trabalho, hoje apelidada de gabinete, procurou-me uma jovem recém-formada. Para falar com o secretário do governador que quebrou paradigmas, construindo duas universidades, não era necessário marcar audiência. Bastava um pouquinho de paciência para ser atendido.
A jovem, que eu não conhecia, apresentou-se como uma cuiabana, pobre, recém formada na famosa Universidade Federal de Viçosa, e que precisava trabalhar. Não tinha carta de apresentação e nem padrinho político, apenas o seu currículo. Gostei da sinceridade e da firmeza das suas colocações, e prontamente dei uma olhada no documento. Ela era formada em Economia Doméstica. Fiquei um pouco embaraçado, pois hei de confessar, não conhecia este curso. Lembrei-me logo da minha mãe, uma verdadeira doutora nesse ramo - poderia por mérito e notável saber, ser até diretora de um curso desses. Mas minha mãe só possuía o curso primário, com uma sabedoria inata, própria daqueles que sabem sentir. Após este rápido devaneio solicitei à jovem que em rápidas palavras me dissesse como poderia ser aproveitada na minha secretaria. Ela respondeu convicta: “Quem se forma em Economia Doméstica, atua nas áreas de alimentação, higiene e saúde.” Pensei logo em aproveitá-la no nosso Restaurante Estudantil da Rua Barão de Melgaço, na educação, prevenção e promoção da saúde dos nossos escolares. Continuou a sua explicação dizendo que foi capacitada para atuar em hospitais, creches, escolas e empresas; na regulamentação das suas atividades rotineiras para o perfeito funcionamento do estabelecimento. Finalizou afirmando que o curso é superior, com duração média de quatro anos, e apesar de ótimo é pouco valorizado e conhecido. Fiquei convencido e satisfeito com as explanações. Mesmo sem saber sua religião, ideologia política, descendência familiar, e outros detalhes desse tipo - ao deixar a Secretaria a jovem levava com ela a cópia do seu contrato assinado, e orientada a começar no dia seguinte o seu trabalho. O seu perfil acadêmico e humano era o ideal para desempenhar funções no governo que quebrou paradigmas na administração de Mato Grosso.
Essa jovem desconhecida, pobre e sem pistolão só precisava de uma oportunidade - que lhe foi dada. Transformou-se em referência no ensino superior em nosso Estado, sem pistolão ou bilhetinhos de apresentação. Venceu por mérito pessoal.
Este fato aconteceu no século passado e era assim que se quebravam paradigmas.
Gabriel Novis Neves
23/03/2010
segunda-feira, 12 de abril de 2010
Quebra de paradigmas
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