Nasci próximo da antiga Igreja Matriz na Praça da República.
Da minha casa ouvia o repicar do sino, chamando os fiéis para a missa e para a reza da noite.
Minha iniciação religiosa foi guiada pelas badaladas do sino.
Os grandes eventos católicos — Natal, Ano Novo, Semana Santa — eu acompanhava pelo som das torres.
Na rua de Baixo havia uma igreja menor, a do Senhor dos Passos, com poucos festejos, mas com o seu sino à disposição.
Mais acima ficava a igreja de São Benedito, esta sim, festeira, repleta de ricas tradições.
Mudei-me depois para a rua do Campo, vizinho à igreja da Boa Morte.
Seu sino, instalado em um campanário baixo, dificultava certas solenidades, como os batizados.
No meu retorno à Cuiabá, morei entre a igreja da Boa Morte e a da Mãe dos Homens.
No Porto vivi entre a igreja de Nossa Senhora Auxiliadora e a de São Gonçalo.
Sempre tive identidade com os sinos das igrejas, e com eles guardei muitas histórias.
Hoje já não ouço os sinos tocarem.
O sino que emudeceu guarda, em seu silêncio, a memória de festas, celebrações e anúncios de outros tempos.
Foi o da Matriz que, em 1945, anunciou o fim da Segunda Guerra Mundial.
Esse silêncio que desce das torres das igrejas carrega boa parte da história de Cuiabá, esperando que pesquisadores a transformem em documentos.
Mas a cidade cresceu tanto que perdeu suas belezas originais, jogadas no lixo do passado.
A ausência dos sinos fez a cidade perder referências.
A alegria do seu badalar está agora guardada na cesta de coisas que não voltam mais.
A cidade, sem o som dos sinos, tornou-se apressada, sem tempo para apreciar a beleza de seus detalhes com a serenidade de outrora.
Gabriel Novis Neves
03-09-2025
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