Cada vez mais rara está aquela atividade comercial do vendedor de rua, que usava o eco da própria voz para oferecer frutas, verduras, doces e anunciar novidades.
Tudo sempre com preços reduzidos.
Esse eco animava e dava vida às manhãs cuiabanas.
Era um verdadeiro trabalho de camelô ambulante.
No bairro onde mora a enfermeira que cuida de mim, ainda é comum ouvir esse chamado.
Hoje quem faz o pregão, geralmente vem em uma caminhonete abarrotada de produtos, muito diferente do antigo ambulante que carregava a mercadoria nos ombros e ia de casa em casa.
O pregão de outrora fazia parte da paisagem: a voz forte atravessava as ruas, e moradores saiam às portas e janelas para interagir com o locutor improvisado.
Hoje só resiste nas periferias das grandes cidades — e se resiste, é porque ainda dá sustento a quem o pratica.
A vida nas pequenas cidades e nos bairros afastados é mais simples, mais próxima da essência, mais agradável que a pressa e o ruído das metrópoles.
O homem, desde sempre, inventa maneiras criativas de sobreviver, e uma das mais antigos é o comércio.
Povos, como libaneses e judeus, mestres nessa arte de negociar, espalharem-se pelo mundo.
Chegaram a Cuiabá no início do século XX, ocuparam o centro histórico e foram, em grande parte, responsáveis pelo desenvolvimento da cidade.
Seus filhos hoje estão em todas as áreas: no comércio e, sobretudo, nas profissões ligadas à saúde como destaque para as especialidades médicas.
E assim como o pregão das frutas, também surgiram os modernos pregões, da medicina: mutirões que, em regiões sem especialistas, reúnem multidões nos finais de semana para serem atendidas.
O chamamento é feito por alto falantes instalados em velhas ximbicas, ecoando como outrora.
O pregão é uma das mais manifestações humanas de trabalho.
Jamais será extinto.
Enquanto houver homens e mulheres, haverá comércio — com ou sem pregão.
Gabriel Novis Neves
15-09-2025
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