Como tenho mais assuntos para escrever sobre o passado, às vezes me torno até repetitivo.
Escrevendo num domingo pela manhã, lembro-me do ritual de engraxar os sapatos antes das missas ou dos passeios de fim de semana.
Vivi parte da minha infância e juventude observando o trabalho dos engraxates e os costumes da minha gente naquele tempo.
Poucos tinham o hábito de limpar os sapatos em casa.
Na caminhada de seus bairros até o centro da cidade—centro de convivência da antiga capital — os calçados precisavam estar brilhando.
Como sinto saudades da cidade rural em que nasci e tanto amava!
Assistia às missas na Catedral, tinha aulas de catecismo, ajudava nas celebrações em latim, com o celebrante de costas para os fiéis.
Depois, ainda com a roupa da missa, jogava futebol descalço no galpão de chão batido atrás do prédio do Palácio da Instrução.
Isso foi até os meus dez anos, quando comecei a frequentar o Colégio Salesiano São Gonçalo, o colégio dos padres.
Lá, assistia às missas, comungava e passava os domingos brincando no Oratório Festivo Dom Bosco.
Os fiéis que vinham daqueles bairros para a igreja chegavam sempre com os sapatos bem polidos.
Hoje, aos domingos, o centro da cidade é deserto.
As pessoas preferem permanecer em seus bairros, muitos distantes, e o centro —outrora vivo — está morrendo.
Precisa de um projeto de revitalização urgente, como presente às novas gerações.
O domingo me faz reviver tudo isso, inclusive os ternos brancos engomados pelas famosas lavadeiras e passadeiras do Baú.
Nos dias atuais, os calçados nem sempre são de couro a exigir brilho.
Tênis-sapato, tênis fechado, quando não sandálias, são os calçados da vida moderna.
Hoje é domingo de recordações.
Gabriel Novis Neves
28-09-2025
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.