sábado, 4 de outubro de 2025

SAPATOS ENGRAXADOS


Como tenho mais assuntos para escrever sobre o passado, às vezes me torno até repetitivo.

 

Escrevendo num domingo pela manhã, lembro-me do ritual de engraxar os sapatos antes das missas ou dos passeios de fim de semana.

 

Vivi parte da minha infância e juventude observando o trabalho dos engraxates e os costumes da minha gente naquele tempo.

 

Poucos tinham o hábito de limpar os sapatos em casa.

 

Na caminhada de seus bairros até o centro da cidade—centro de convivência da antiga capital — os calçados precisavam estar brilhando.

 

Como sinto saudades da cidade rural em que nasci e tanto amava!

 

Assistia às missas na Catedral, tinha aulas de catecismo, ajudava nas celebrações em latim, com o celebrante de costas para os fiéis.

 

Depois, ainda com a roupa da missa, jogava futebol descalço no galpão de chão batido atrás do prédio do Palácio da Instrução.

 

Isso foi até os meus dez anos, quando comecei a frequentar o Colégio Salesiano São Gonçalo, o colégio dos padres.

 

Lá, assistia às missas, comungava e passava os domingos brincando no Oratório Festivo Dom Bosco.

 

Os fiéis que vinham daqueles bairros para a igreja chegavam sempre com os sapatos bem polidos.

 

Hoje, aos domingos, o centro da cidade é deserto.

 

As pessoas preferem permanecer em seus bairros, muitos distantes, e o centro —outrora vivo — está morrendo.

 

Precisa de um projeto de revitalização urgente, como presente às novas gerações.

 

O domingo me faz reviver tudo isso, inclusive os ternos brancos engomados pelas famosas lavadeiras e passadeiras do Baú.

 

Nos dias atuais, os calçados nem sempre são de couro a exigir brilho.

 

Tênis-sapato, tênis fechado, quando não sandálias, são os calçados da vida moderna.

 

Hoje é domingo de recordações.

 

Gabriel Novis Neves

28-09-2025




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