quarta-feira, 10 de setembro de 2025

MINHAS TRÊS PRIMEIRAS VIAGENS DE AVIÃO


A primeira viagem para o Rio de Janeiro, em 1939. Eu era pequeno e só me lembro do embarque, no cais do Porto do rio Cuiabá para o hidroavião. Papai ia visitar sua mãe, e levou consigo a esposa e os três filhos: eu, Yara e Pedro. 


Recordo que chovia bastante. Eu chorava, enquanto a banda de música da Polícia Militar tocava na despedida do seu comandante, Coronel Máximo Levi, nosso vizinho da rua de Baixo. 


Assim que o pequeno avião deslizou pelas águas do rio Cuiabá, eu adormeci. Não me recordo mais de nada — nem da chegada ao Rio de Janeiro, nem da volta para Cuiabá. Do Rio, guardo apenas a lembrança da Praça do Lido, com seu parquinho onde brincávamos no escorregador e balanço. Para os meus quatro anos de idade, bastava. 


Retornei àquela cidade apenas em julho de 1952, já rapaz, acompanhado do meu pai, para conhecer o lugar onde iria estudar a partir de março de 1953. 


Dessa viagem guardo as melhores recordações. Conheci o mar, a praia de Copacabana, o morro da Urca, o Pão de Açúcar, o Corcovado e o Maracanã. 


Nessa semana inesquecível, descobri os bondes elétricos, as lotações para vinte pessoas e o trem da Central do Brasil. Encantei-me com as lojas de departamentos, como a Sears, em Botafogo. 


Almoçávamos diariamente em restaurantes no centro da cidade. A Cinelândia com seus teatros, cinemas e histórias e a rua do Ouvidor, com suas lojas e mulheres elegantes de todo o Rio de Janeiro, eram atrações imperdíveis. 


Durante nossa curta permanência, o traje obrigatório era terno completo com gravata, cujo nó era feito pelas mãos do meu pai. Naquele tempo, essa era a praxe. 


Aos dezessete anos, ainda sem barba, acompanhava-o aos salões do centro do Rio. 


Comprei apenas duas camisas de seda de manga comprida — uma amarela e outra azul — para o meu enxoval do ano seguinte. 


Papai comentava, divertido, que os taxistas o chamavam de ‘coronel’, pelo porte e pelo uso impecável do terno e da gravata. 


Em março de 1953 parti, em um DC-3 pinga-pinga, usando terno e gravata, levando uma matula para o longo voo que decolou às seis da manhã e só pousou no Rio, às seis da tarde. 


Retornei à minha cidade natal médico e casado, na tarde do dia 31 de julho de 1964, em um DC-3.

 

Gabriel Novis Neves

09-09-2025





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