Durante os onze anos em que estudei no Rio de Janeiro, aos sábados, depois do almoço, eu escrevia e levava ao Correio uma carta para a minha mãe.
Na quarta-feira seguinte recebia a resposta dela.
Eu tinha dificuldade para escrever, a ponto de minhas dissertações escolares serem feitas pelo meu vizinho Rubens de Mendonça.
Já minha mãe, mesmo com pouca escolaridade, possuía uma caligrafia impecável e escrevia com clareza e elegância.
Não tivemos o hábito de guardar o que realmente importa, e perdi todas essas cartas carregadas de saudade e amor.
Hoje, com a internet, ninguém mais escreve cartas nem cultiva a caligrafia.
As mensagens são instantâneas e surgem em letras de teclados.
Um pequeno computador na palma da mão — o celular — envia recados para qualquer parte do mundo em segundos.
A própria Inteligência Artificial, pode escrever o texto!
Tudo se modernizou para melhor, é verdade, mas perdemos a espera.
E a espera era fonte de inspiração para poetas e compositores.
Sem lápis, papel e paciência, canções românticas como ‘Mensagem’ — mais conhecida como ‘Carteiro’ e imortalizada na voz de Isaurinha Garcia — já não nascem.
Às vezes precisamos da lentidão para resolver os problemas do coração.
Nada de pressa ou instantaneidade: só as cartas de antigamente carregavam esse sopro de calma.
O homem do campo sempre soube que a sabedoria nasce da compreensão da lentidão.
A tecnologia chegou para nos ajudar e nos inserir no mundo da competição, mas nos roubou o tempo de esperar, pensar e refletir.
Na floresta, uma das diversões do homem é a ‘caçada de espera’: o prazer não está apenas na presa, mas no momento da sua chegada, quando a adrenalina desperta no caçador.
E basta observar alguns animais, que ainda não aprenderam o que é pressa, para sentir a paz que eles transmitem ao homem.
E esses irracionais vivem plenamente sem nunca precisarem escrever.
Gabriel Novis Neves
26-05-2025
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